Caros leitores, não sei se já pararam algum minuto para pensar sobre os primórdios
da música brasileira. Antes de ter a ideia de criar esse blog, já tinha uma
vaga noção, mas bem distante do que realmente foi o início da música
brasileira. Sempre ao pensar no passado, me vinha à cabeça aquelas músicas clássicas,
presentes em todos os filmes que registram a época.
Nesse
artigo, pretendo apresentar o início da nossa música além de buscar formas de
entender como esse início influenciou na formação da sua identidade.
Para
continuarmos proponho algumas perguntas básicas:
Como
era antes de 1500?
Como
ficou após a chegada dos portugueses?
Quais
instrumentos eram usados?
Como
se difundiu?
Então, vamos lá...
Os
primeiros duzentos anos
Logo
que chegaram ao Brasil, os portugueses se depararam com os índios. E ao passarem
a conviver um pouco mais eles, foram conhecendo a sua forma de expressar através
da música. Os indígenas dançavam em círculos, cantando e batendo os pés. E entre
seus cantos, um era dedicado a uma ave amarela denominada ‘’Canide Iouni’’. Entre os instrumentos utilizados pelos tupis
estavam a Flauta, o Tambor e o Chocalho.
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Padres Jesuítas e os Índios |
As
danças e os cânticos dos indígenas eram voltados para o mágico e essa pré disposição indígena
para a música facilitou a aproximação
dos padres jesuítas.
É
equivocado atribuir uma única fonte inicial para a música brasileira. Pensem
comigo: se hoje, o Brasil é marcado pela sua diversidade cultural, imaginem há cinco
séculos, com a presença e unificação de diferentes povos e culturas, sendo que
os de maior destaque e que mais influenciaram na formação da nossa música foram
os indígenas, portugueses e africanos.
Nessa
mistura, vamos correlacionar alguns instrumentos e, de acordo com as suas
origens, entender como a nossa música foi sendo moldada. Como dito
anteriormente, os indígenas usavam flauta, tambores e chocalhos. Todos esses
instrumentos produzidos artesanalmente por eles. Agora, da parte européia, vieram a Viola, o
Piano, a Flauta Doce, o Violino e demais instrumentos de corda. Finalizando, da
África, o Berimbau, o Agogô, o Atabaque e a tão popular Cuíca, que era chamada de
Twipa.
Com
o passar dos anos, a influência indígena foi tendo menos peso na música. Mesmo com essa perda, ela acabou ao término do
segundo século de existência do nosso país, dividindo com as culturas africana e
européia, o posto de formadores da música brasileira.
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Escravos em festa |
Na
verdade, é muito difícil conseguir dados referentes à música brasileira entre
os séculos XVI a XVIII. Mas, de acordo com os resultados de pesquisas realizadas
por estudiosos da área, podemos afirmar que a música popular brasileira foi se
formando de acordo com os centros urbanos que vinham sendo erguidos no país.
Os
Séculos XVIII e XIX e a influência mineira
Com
o crescimento do país e formação de novos centros urbanos, a música vinha
sofrendo bastante influência por parte daqueles que eram os seus precursores.
No Rio de Janeiro e em Salvador surgiram dois tipos musicais que nortearam os
rumos da musica brasileira: o Lundu e a Modinha. O Lundu, oriundo da África, era
bastante sensual e continha uma batida rítmica dançante. Já a Modinha, oriunda
de Portugal, falava de amor e apresentava uma batida calma e erudita.
Uma
cidade que eu fiquei surpreso, ao ler sobre a história da nossa música, é Ouro
Preto. Essa Ouro Preto que eu moro e muito dos leitores deste Blog também. Cresci
aqui e recebi uma educação bastante forte sobre essa cidade, tanto nas escolas
quanto na minha própria casa. Em ambas, a importância de Minas e de Ouro Preto
na música brasileira, nunca foi explorada. Essa força ouropretana na história
da música brasileira é uma grata surpresa pra mim.
No
século XVIII, Vila Rica (hoje, Ouro Preto) vivia o auge da época do ouro, era a
capital mineira e continha uma miscigenação muito forte, o que contribuía para
o desenvolvimento da música na cidade. Não somente Vila Rica, mas também
Mariana, antiga Vila do Carmo, São João Del Rey e Arraial do Tejuco, atual
Diamantina. A música nessas cidades, devido às diferentes classes sociais
existentes e ao fato da religião católica estar presente em todas, se
desenvolveu fortemente.
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Órgão da Sé em Mariana |
Muitas
dessas cidades, chegaram a importar órgãos europeus que foram sendo instalados
nas igrejas. O conhecido Órgão da Sé, em Mariana, foi um presente enviado
pela Coroa Portuguesa ao primeiro bispo da cidade.
As
irmandades exerciam grande influência nessas cidades mineiras, o que contribuiu
para a supremacia da Música Sacra. Cada vez mais, a Música Sacra atraía e promovia
grandes compositores nacionais para essas cidades, entre eles Lobo de Mesquita,
Manuel Dias de Oliveira e Ignácio
Parreiras Neves.
É
válido ressaltar que esses compositores não eram os únicos que se destacavam na
região. A Música Profana, também se desenvolvia devido ao crescimento das
festas populares. Resultando, na capitania de Minas Gerais, principalmente após
a segunda metade do século XVIII, no surgimento de um grande número de
compositores mulatos, que encontravam na música a possibilidade de ascensão
social, uma vez que exercer profissões clássicas não lhes era permitido. Esse
talento dos mulatos lhes dava a possibilidade de fazer apresentações em locais
onde só brancos eram aceitos.
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Casa da Ópera de Vila Rica |
Os
compositores mulatos tinham muitas de suas composições, voltadas para peças
teatrais, onde podemos destacar a forte presença delas nas peças exibidas na
Casa da Ópera de Vila Rica.
Em
se tratando de registros históricos, que já não são muitos, a maioria
disponível é relacionada à Música Sacra. Infelizmente, o que se refere a música
mais popular da época, é em sua grande maioria, de autores desconhecidos.
Com
o declínio da exploração aurífera, Vila Rica e as demais cidades mineiras
deixaram de ser o foco da música, e este foi deslocado, principalmente, para o
Rio de Janeiro e São Paulo.
O
Século XIX e o início da música tipicamente nacional
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Banda Euterpe Cachoeirense |
As
bandas regionais surgiram em Minas no século XIX. Estas substituíam os
instrumentos de corda por instrumentos de sopro. O surgimento destas bandas
possibilitou que a música saísse dos palcos e chegasse até o povo,
sendo que eram feitas apresentações em coretos, adros de igrejas, festas
públicas e religiosas.
Nesse
artigo, não entrei em detalhes sobre a presença da música erudita no Brasil. O que,
aliás, vocês podem estar sentindo falta. Optei por assim fazê-lo, uma vez que a
meu ver, a Música Erudita não retratava o que era a música que se tornava
brasileira e era apenas a representação do que era encontrado nos concertos
europeus.
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Carlos Gomes |
Porém,
nesse artigo, é impossível não falar do compositor Antônio Carlos Gomes, que dentre
os seus feitos, se destacou por inserir, na Música Erudita, uma temática mais
nacionalista, mas sem perder o tom europeu. Isso já na segunda metade do século
XIX. Apenas no final desse século é que se pode afirmar que a música brasileira
começou a ter um caráter mais nacional.
Neste
período, começavam a nascer importantes músicos e novos estilos de músicas no país,
em conseqüência de junções de vários estilos já presentes na nossa cultura e
que a partir do início do século XX mudariam para sempre a história da música
brasileira. Bom, mas isso é papo para uma próxima conversa!
Extras:
- · No auge, Vila Rica possuía aproximadamente
duzentos e cinqüenta músicos profissionais. Para conhecer um pouco mais sobre os
compositores que se destacaram na capitania de Minas Gerais clique aqui: http://www.cidadeshistoricas.art.br/hac/artmus_05_p.php
- · Em Mariana existe o Museu da Música, que
contém arquivos históricos principalmente sobre a música mineira até o século
XVIII. Site www.museudamusica.com.br
- · Na Catedral da Sé em Mariana ainda existem apresentações
públicas. Para mais informações visite http://www.orgaodase.com.br/
- · Em Ouro Preto e em várias cidades mineiras
ainda é possível encontrar essas bandas que se iniciaram no séc XIX. Aqui em Ouro Preto conheço a Sociedade Musical Senhor Bom Jesus das Flores e Sociedade Musical Senhor Bom Jesus de Matozinhos.
- · A Casa da Ópera de Ouro Preto é a o teatro
mais antigo em atividade das Américas.
Fontes:
TINHORÃO, J. R. História
social da música popular brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998. 365 p.