29 de jan. de 2012

Uma pequena história do carnaval no Brasil - (Parte 1)


Introdução:

Como a proposta deste Blog é conhecer um pouco mais sobre a história da nossa música, nada mais justo fazer um especial sobre o carnaval brasileiro. Afinal, o desenvolvimento da nossa música é diretamente ligado às fases do carnaval no Brasil.

Para esse especial, li alguns autores e sites que discorrem sobre a história do carnaval, e procurei sempre pelo enfoque no carnaval do Brasil. Ao final, montei um pequeno histórico, e que devido ao tamanho resolvi dividir em duas partes.

O Carnaval, origem e chegada no Brasil:

Tanto o nome quanto a origem e a chegada do carnaval aqui no nosso Brasil geram bastantes dúvidas nos historiadores e demais estudiosos. Não se sabe precisamente a origem do termo carnaval. O termo também é encontrado no período medieval como carmem levare ou carnelevarium. Ambas significam a véspera da quarta-feira de cinzas.

Juntamente com a dificuldade em encontrar a real origem do termo carnaval está a dificuldade em descobrir a origem dele.  Há quem diga que ele surgiu em Roma, proveniente das festas orgíacas e outros afirmam ser uma festa de origem grega. Isso porque o Rei Momo é uma das formas de Dionísio, o deus Baco, patrono do vinho e do seu cultivo. Mas independente da origem do carnaval podemos afirmar que ele desde o seu início foi regado por muita comemoração, festas, bebidas, comidas e demais componentes que de uma forma ou de outra, acabam proporcionando o bem para as pessoas.

A chegada ao Brasil é mais um ponto que gera dúvida. A única certeza é de que ele foi trazido pelos portugueses e a data mais aceita pelos historiadores é 1723. Embora essa data seja aceita, há uma corrente que afirma que o primeiro carnaval brasileiro surgiu em 1641, em uma festa promovida para o rei Dom João IV.

A influência européia e início da transformação do carnaval brasileiro:

Carnaval em Veneza.
No início, ele não era chamado de carnaval, mas de Entrudo, palavra oriunda do latim introitus e que é referida às solenidades litúrgicas da Quaresma. O Entrudo era marcado por muita alegria, porém vendo de fora, no século XXI, pode parecer um pouco estranho, pois ele era caracterizado por uma ‘’guerra’’ entre os foliões, onde eram atirados baldes d’água, limões-de-cheiro e outras frutas que deixam todos com as roupas sujas e a ponto de serem jogadas fora devido a tanta sujeira e mau cheiro. Essas brincadeiras não foram muito bem aceitas pela Igreja Católica e várias transformações foram sendo inseridas a pedido dela.

Até o final do século XIX, o carnaval brasileiro teve a Europa como influência. Na Europa o carnaval era caracterizado por desfiles urbanos onde os personagens usavam máscaras e fantasias. Além do rei Momo, já mencionado no início, a Colombina e o Pierrô, outros dois personagens que dão o charme ao carnaval até hoje, também são de origem européia.

Zé Pereira
Um personagem que merece destaque não só pela sua importância na história do carnaval brasileiro, mas também pela sua presença nos dias atuais, é o Zé Pereira. Em 1846 o sapateiro português, José Nogueira de Azevedo Paredes inseriu no Brasil o hábito de percorrer as ruas da cidade ao som de zabumbas e tambores. O chamado ‘’ritmo Zé Pereira’’ foi crescendo e ajudando a popularizar o carnaval.  Um pouco mais tarde, em 1876, José Nogueira se mudaria para Ouro Preto e fundaria o Clube dos Lacaios, popularmente conhecido como Zé Pereira dos Lacaios. Desfilando em todos os carnavais, o Zé Pereira hoje é o bloco carnavalesco mais antigo em atividade do Brasil.

Além do Zé Pereira, outros elementos foram dando forma ao carnaval brasileiro, entre eles o Baile de Máscaras, que embora tenha sido realizado inicialmente em comemorações para/da família real, em 1840 aconteceu o primeiro aberto ao público. Aberto nem tanto, era necessário pagar dois mil reis pelo ingresso, que dava direito a uma ceia também.
Aliadas ao uso dessas máscaras vieram também as fantasias, principalmente a partir de 1870.

A partir daí, o carnaval que antes não chegava a um décimo da população, começou a crescer país afora, com o surgimento de blocos, cordões, bailes ao ar livre, pré-carnaval e matinês. Muitos dos bailes nacionais chegaram a repercutir até fora do país, principalmente os realizados em locais fechados. Mesmo com essa repercussão internacional, o sucesso e transformação do carnaval em um carnaval tipicamente brasileiro, só foi possível graças à participação das camadas mais populares da sociedade.

No finalzinho do século XIX, uma obra de arte da nossa música chegou, mudando para sempre o carnaval no país. Essa obra a que me refiro é a marchinha ‘’Ó Abre Alas’’, de autoria da maestrina Chiquinha Gonzaga, e composta para o cordão Rosa de Ouro.

Chiquinha Gonzaga

  • Extras:
  • A partir de 1685, ora as máscaras eram liberadas pela polícia, ora eram negadas. Os negros e mulatos caso fossem pegos usando, seriam chicoteados em praça pública. Os brancos seriam exilados para a Colônia do Sacramento.
  • As fantasias mais famosas e clássicas durante o período do império até o início da república eram: a caveira, o burro, o doutor, a morte, o diabo, o marajá, o pai João, o mandarim, o rajá, o marajá, Pierrô, Colombina e Arlequim.

27 de jan. de 2012

Vem aí um especial sobre o Carnaval Brasileiro!

Estou preparando um especial sobre o carnaval. A proposta é postar alguns textos relativos à sua história no Brasil, conhecendo um pouco desde o início e chegando até os dias atuais. Passando pelos ritmos, blocos tradicionais, compositores, escolas de samba, entre outros elementos que compõe essa festa popular que a cada último dia de sua realização já é o evento mais esperado para o próximo ano.


Estou lendo alguns textos, capítulos de livros e buscando informações aqui na internet também. Pretendo lançar o primeiro artigo até o próximo domingo.

Conto e preciso das sugestões de vocês!

Abraços!

19 de jan. de 2012

Fala galera!

Como viram no artigo anterior, chegamos ao final do séc XIX. À partir dali nossa música nunca mais foi a mesma. Estou lendo uns materiais esses dias e espero prosseguir com a ordem cronológica da nossa música  na semana que vem.

Enquanto isso, deixo o vídeo do Thiago Novais, amigo meu, que está representando a nossa região no São Paulo Exposamba.

Nome da música: Auto-enredo
Composição: Thiago Novais


No G1: http://g1.globo.com/videos/mostra-sao-paulo-exposamba/t/geral/v/mostra-sao-paulo-exposamba-Thiago-Novais-Marques/1763372/


Abraços!





15 de jan. de 2012

Afinal, como foi o início da música brasileira?

Caros leitores, não sei se já pararam algum minuto para pensar sobre os primórdios da música brasileira. Antes de ter a ideia de criar esse blog, já tinha uma vaga noção, mas bem distante do que realmente foi o início da música brasileira. Sempre ao pensar no passado, me vinha à cabeça aquelas músicas clássicas, presentes em todos os filmes que registram a época. 

Nesse artigo, pretendo apresentar o início da nossa música além de buscar formas de entender como esse início influenciou na formação da sua identidade.

Para continuarmos proponho algumas perguntas básicas:

Como era antes de 1500?
Como ficou após a chegada dos portugueses?
Quais instrumentos eram usados?
Como se difundiu?

Então, vamos lá...

Os primeiros duzentos anos

Logo que chegaram ao Brasil, os portugueses se depararam com os índios. E ao passarem a conviver um pouco mais eles, foram conhecendo a sua forma de expressar através da música. Os indígenas dançavam em círculos, cantando e batendo os pés. E entre seus cantos, um era dedicado a uma ave amarela denominada ‘’Canide Iouni’’. Entre os instrumentos utilizados pelos tupis estavam a Flauta, o Tambor e o Chocalho.


Padres Jesuítas e os Índios
As danças e os cânticos dos indígenas eram voltados para o mágico e essa pré disposição indígena para a música facilitou a aproximação dos padres jesuítas.

É equivocado atribuir uma única fonte inicial para a música brasileira. Pensem comigo: se hoje, o Brasil é marcado pela sua diversidade cultural, imaginem há cinco séculos, com a presença e unificação de diferentes povos e culturas, sendo que os de maior destaque e que mais influenciaram na formação da nossa música foram os indígenas, portugueses e africanos.

Nessa mistura, vamos correlacionar alguns instrumentos e, de acordo com as suas origens, entender como a nossa música foi sendo moldada. Como dito anteriormente, os indígenas usavam flauta, tambores e chocalhos. Todos esses instrumentos produzidos artesanalmente por eles. Agora, da parte européia, vieram a Viola, o Piano, a Flauta Doce, o Violino e demais instrumentos de corda. Finalizando, da África, o Berimbau, o Agogô, o Atabaque e a tão popular Cuíca, que era chamada de Twipa.

Com o passar dos anos, a influência indígena foi tendo menos peso na música.  Mesmo com essa perda, ela acabou ao término do segundo século de existência do nosso país, dividindo com as culturas africana e européia, o posto de formadores da música brasileira.

Escravos em festa
Na verdade, é muito difícil conseguir dados referentes à música brasileira entre os séculos XVI a XVIII. Mas, de acordo com os resultados de pesquisas realizadas por estudiosos da área, podemos afirmar que a música popular brasileira foi se formando de acordo com os centros urbanos que vinham sendo erguidos no país.



Os Séculos XVIII e XIX e a influência mineira

Com o crescimento do país e formação de novos centros urbanos, a música vinha sofrendo bastante influência por parte daqueles que eram os seus precursores. No Rio de Janeiro e em Salvador surgiram dois tipos musicais que nortearam os rumos da musica brasileira: o Lundu e a Modinha. O Lundu, oriundo da África, era bastante sensual e continha uma batida rítmica dançante. Já a Modinha, oriunda de Portugal, falava de amor e apresentava uma batida calma e erudita.

Uma cidade que eu fiquei surpreso, ao ler sobre a história da nossa música, é Ouro Preto. Essa Ouro Preto que eu moro e muito dos leitores deste Blog também. Cresci aqui e recebi uma educação bastante forte sobre essa cidade, tanto nas escolas quanto na minha própria casa. Em ambas, a importância de Minas e de Ouro Preto na música brasileira, nunca foi explorada. Essa força ouropretana na história da música brasileira é uma grata surpresa pra mim. 

No século XVIII, Vila Rica (hoje, Ouro Preto) vivia o auge da época do ouro, era a capital mineira e continha uma miscigenação muito forte, o que contribuía para o desenvolvimento da música na cidade. Não somente Vila Rica, mas também Mariana, antiga Vila do Carmo, São João Del Rey e Arraial do Tejuco, atual Diamantina. A música nessas cidades, devido às diferentes classes sociais existentes e ao fato da religião católica estar presente em todas, se desenvolveu fortemente.

Órgão da Sé em Mariana
Muitas dessas cidades, chegaram a importar órgãos europeus que foram sendo instalados nas igrejas. O conhecido Órgão da Sé, em Mariana, foi um presente enviado pela Coroa Portuguesa ao primeiro bispo da cidade.

As irmandades exerciam grande influência nessas cidades mineiras, o que contribuiu para a supremacia da Música Sacra. Cada vez mais, a Música Sacra atraía e promovia grandes compositores nacionais para essas cidades, entre eles Lobo de Mesquita, Manuel Dias de Oliveira e Ignácio Parreiras Neves.

É válido ressaltar que esses compositores não eram os únicos que se destacavam na região. A Música Profana, também se desenvolvia devido ao crescimento das festas populares. Resultando, na capitania de Minas Gerais, principalmente após a segunda metade do século XVIII, no surgimento de um grande número de compositores mulatos, que encontravam na música a possibilidade de ascensão social, uma vez que exercer profissões clássicas não lhes era permitido. Esse talento dos mulatos lhes dava a possibilidade de fazer apresentações em locais onde só brancos eram aceitos.

Casa da Ópera de Vila Rica
Os compositores mulatos tinham muitas de suas composições, voltadas para peças teatrais, onde podemos destacar a forte presença delas nas peças exibidas na Casa da Ópera de Vila Rica.

Em se tratando de registros históricos, que já não são muitos, a maioria disponível é relacionada à Música Sacra. Infelizmente, o que se refere a música mais popular da época, é em sua grande maioria, de autores desconhecidos.

Com o declínio da exploração aurífera, Vila Rica e as demais cidades mineiras deixaram de ser o foco da música, e este foi deslocado, principalmente, para o Rio de Janeiro e São Paulo.

O Século XIX e o início da música tipicamente nacional

Banda Euterpe Cachoeirense
As bandas regionais surgiram em Minas no século XIX. Estas substituíam os instrumentos de corda por instrumentos de sopro. O surgimento destas bandas possibilitou que a música saísse dos palcos e chegasse até o povo, sendo que eram feitas apresentações em coretos, adros de igrejas, festas públicas e religiosas.

Nesse artigo, não entrei em detalhes sobre a presença da música erudita no Brasil. O que, aliás, vocês podem estar sentindo falta. Optei por assim fazê-lo, uma vez que a meu ver, a Música Erudita não retratava o que era a música que se tornava brasileira e era apenas a representação do que era encontrado nos concertos europeus.

Carlos Gomes
Porém, nesse artigo, é impossível não falar do compositor Antônio Carlos Gomes, que dentre os seus feitos, se destacou por inserir, na Música Erudita, uma temática mais nacionalista, mas sem perder o tom europeu. Isso já na segunda metade do século XIX. Apenas no final desse século é que se pode afirmar que a música brasileira começou a ter um caráter mais nacional.

Neste período, começavam a nascer importantes músicos e novos estilos de músicas no país, em conseqüência de junções de vários estilos já presentes na nossa cultura e que a partir do início do século XX mudariam para sempre a história da música brasileira. Bom, mas isso é papo para uma próxima conversa!

Extras:

  • ·        No auge, Vila Rica possuía aproximadamente duzentos e cinqüenta músicos profissionais. Para conhecer um pouco mais sobre os compositores que se destacaram na capitania de Minas Gerais clique aqui: http://www.cidadeshistoricas.art.br/hac/artmus_05_p.php
  • ·       Em Mariana existe o Museu da Música, que contém arquivos históricos principalmente sobre a música mineira até o século XVIII. Site www.museudamusica.com.br            
  • ·   Na Catedral da Sé em Mariana ainda existem apresentações públicas. Para mais informações visite http://www.orgaodase.com.br/
  • ·         Em Ouro Preto e em várias cidades mineiras ainda é possível encontrar essas bandas que se iniciaram no séc XIX. Aqui em Ouro Preto conheço a Sociedade Musical Senhor Bom Jesus das Flores e Sociedade Musical Senhor Bom Jesus de Matozinhos.
  • ·          A Casa da Ópera de Ouro Preto é a o teatro mais antigo em atividade das Américas.


Fontes:

TINHORÃO, J. R. História social da música popular brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998. 365 p.











10 de jan. de 2012

Seja bem-vindo, caro leitor!

Resolvi criar esse blog a fim de que ele se torne um espaço para discussão a respeito da música brasileira nas suas variadas categorias, diferenças, gerações, mas que ao mesmo tempo transmite aquela sonoridade tão peculiar e marcante que só ela é capaz de nos passar.

As primeiras postagens serão relacionadas à história dela, para que possamos entender um pouco como nossa música começou e como esse início influenciou e influencia o que conhecemos hoje como música brasileira. 

Depois dessa fase inicial a expectativa é apresentar e trocar ideias a respeito de compositores, bandas, documentários, novos artistas, filmes e tudo mais o que for relacionado à nossa música.

Espero que seja aceito por todos os públicos e faço o convite aos leitores, não importando os seus diferentes graus de conhecimento e nem ao mínimo os seus gostos, para sempre acessarem esse espaço, tornando-o um meio importante de divulgação, debate e aprendizado para todos nós!
  
Um abraço,

Ricardo Reis
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